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VENDIDA

Vendi meu cabelo e comprei uma bicicleta que está a venda/VENDIDA
Pesqusia e ações performáticas
2011-2018

Vendi meus cabelos castanhos de muitas mechas e, com o dinheiro da venda, comprei uma bicicleta Caloi Ceci de três marchas.

Esta pesquisa iniciou no ano de 2011 quando eu estava no último ano do curso Superior de Pintura, pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). Meus maiores interesses de pesquisa na época incluíam problematizar temas relacionados à sexualidade e objetos de fetiche.

Eu entendia o cabelo como um artifício de sedução culturalmente natural, sobretudo os longos cabelos femininos. No entanto, também me gerava uma imensa curiosidade refletir sobre seus estados. Por exemplo, é comum estabelecer relações de poder através dos cabelos na cabeça de uma pessoa; no entanto, sensações de nojo ou estranhamento em relação à eles também são comuns, sobretudo quando caem no chão – no ralo do banheiro e em salões de beleza especialmente (mesmo limpos) -, como perucas e etc.

Ouvi muitas curiosidades durante o processo de orçamento dos meus cabelos – para investigar quem daria mais. Entre todas, uma das que mais me chamou a atenção, foi uma história sobre roubo de cabelos, que era mais ou menos assim…

Em Curitiba (cidade em que eu morava na época), há uma região em que se concentram as lojas de compras e vendas de cabelos, que são muitas, diga-se de passagem. Estão localizadas em região central porém “escondida” do centro (digamos assim). E as pessoas me diziam para tomar cuidado e não caminhar por lá com os cabelos presos feito “rabo de cavalo” devido à facilidade que os ladrões têm para cortá-lo rapidamente com uma tesoura e vendê-lo posteriormente. Pude notar, contudo, que meus longos cabelos realmente tinham valor para além de um poder social.

 

Outra curiosidade é que os cabelos loiros valiam 2/3 a mais do que os meus castanhos escuro na época. Quanto mais claros e lisos, mais valiam.

Fiz a venda por 300,00 e comprei a Caloi Ceci pelo mesmo valor. E ela era linda! Vintage, de cor dourada e com três marchas, fazia o maior sucesso pela cidade. Onde quer que eu passasse com ela, gerava  olhares curiosos, admirados e “conversas frouxas”. Além disso, ela ainda era alvo de fotografias! As pessoas me paravam na rua me pedindo para fotografá-la.

Então logo percebi que eu realmente havia feito um ótimo negócio! Pois aquela bicicleta antiga também era objeto de fetiche e artifício de beleza e poder. Pude constatar isso pelos cinco anos em que usei e abusei dela dia ou noite, calor ou frio em diversos lugares e bairros da cidade. Inclusive, as pessoas me amedrontavam ao dizerem que minha bicicleta era alvo de desejo e consequente roubo. Como o desejo e o medo andam tão ligados, não é mesmo?

 

Contudo, pude solicitar um ótimo preço para venda. E na minha mudança de cidade (de Curitiba para Florianópolis), consegui vendê-la por 1000,00. Legal, né? Meu cabelo valorizou com o tempo e continuou gerando renda, como se continuasse crescendo. 

Essa história das vendas dos meus cabelos para a compra da Ceci me renderam muitas réplicas e feedbacks, seja através de conversas informais, diálogos e discussões sobre arte, apropriações da minha imagem e história para outras proposições artísticas, comentários em redes sociais etc. Em breve, compartilharei aqui algumas dessas experiências.  

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